Iniciamos este blog em outubro de 2008, para divulgar o lançamento do livro de Francisco Dias da Costa Vidal sobre suas memórias da Praia do Hermenegildo. Mas continuaremos contando sobre nossos passeios, nossas experiências, nossas artes, e as novidades do nosso Planeta. Convidamos a todos os amigos a participarem e assim, continuarem a fazer parte da nossa história! Sejam Bem-vindos!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Vagner teve duas sessões de autógrafos

No sábado 30 de outubro, Vágner autografou na Feira do Livro sua primeira obra de fôlego: "Redução da maioridade penal: análise da proposta pelos conselheiros de Pelotas". É a sua dissertação de mestrado, defendida em setembro de 2009 na Católica (foto à direita). Eu fiz a digitação desde o início e a revisão final (não creditado).

Ele já havia escrito artigos em revistas científicas e em jornais. O quilométrico título da dissertação ficou assim: "Redução da maioridade penal sob a ótica de uma sociedade excludente: um estudo de caso junto ao Conselho Tutelar e ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente em Pelotas". A defesa foi um sucesso, tanto na forma como no conteúdo.

Para integrar a banca, veio de São Paulo Berenice Couto (de preto na foto à esquerda), doutora em Serviço Social que ele cita nas referências bibliográficas. No dia da defesa, a banca indicou que publicasse em livro (orientador Antônio Chies) e, sem se melindrar, o Vagner pediu à gentil e admirada professora Berenice que escrevesse a apresentação. Ela aceitou e enviou por email esse prefácio em que elogia muito o autor e a obra.

À sessão de autógrafos na Feira, dia de lançamento do livro — editado pela EDUCAT mas não assumido pela livraria da UCPel — vieram cerca de uma dúzia de compradores, uma quantidade maior que o Vagner esperava e que o deixou muito satisfeito e orgulhoso (como estava em 2005, no casamento). Da família Vidal, somente eu e Ignez (com ajuda, animou-se a subir os dois degraus da sala de autógrafos).

Uma surpresa adicional veio um mês depois, quando a Editora da UCPel decidiu fazer uma sessão conjunta de 5 livros sendo apresentados: dois deles por primeira vez em Pelotas (vinham de fora) e três já lançados aqui, nas semanas anteriores.

Assim, o estreante escritor se viu lado a lado com uma psicóloga que também lançava sua dissertação em livro, com uma equipe de advogados, com o atual reitor Proença (tradutor de um livro espanhol) e com o velho professor Baruffa, italiano que ajudou a fundar a Universidade nos anos 60. Nada mau para alguém que começa.

Nessa ocasião não pude ir, mas Maria Eliana representou a família. O Vagner havia pedido expressamente o apoio moral dos amigos, pois achava que se sentiria muito só na multidão. Na foto do site da UCPel (abaixo), vê-se a multidão, e uma relativa solidão (o Vagner à esquerda; Maria Eliana segurando a Bárbara, à direita).

Entretanto, além dos exemplares presenteados, ele ainda vendeu mais uma dúzia, e se acabou a pequena edição (paga por ele mesmo). Só restou um livro, em casa. Para quem quiser comprar, está na Vanguarda e na livraria da EDUCAT.

Reportagem do Diário sobre barulho na cidade

Sexta passada veio uma jornalista do Diário Popular que pesquisava sobre o barulho noturno em Pelotas, Joice Bacelo. O contato foi feito por uma moça moradora do edifício Montreal, amiga do Marco Antônio. Ele veio aqui em casa naquela hora e também prestou depoimento (é a opinião de um jovem anônimo, citado na matéria).

A reportagem saiu hoje e não está no site do jornal (ainda). Ocupa duas páginas e tem 4 fotos: a maior mostra um decibelímetro marcando 78.8, abaixo apareço eu enjaulado pelo ruído, na outra página um elemento urinando e no fim uma imagem da Gonçalves Chaves defronte ao João Gilberto.

A legenda da segunda foto diz: Família de Francisco Vidal sofre com o barulho na Santa Cruz esquina Lobo da Costa.

A última diz: Quem mora próximo aos bares da zona universitária precisa ter uma paciência enorme para suportar a barulheira infernal durante algumas noites.

Clicar nas fotos permite ver as imagens aumentadas. Novo clique sobre a foto dá maior aumento.

PD: Veja aqui parte da reportagem do Diário, com um vídeo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Boate se diz inocente

Em 28 de outubro passado, o clicRBS publicou a nota abaixo (o site já havia criado um título para notícias sobre Barulho). Depois desta argumentação de inocência, as festas não têm parado nesta casa de gritos, bebidas e batuques, nem sequer no domingo das eleições. Quem decide o que acontece na sociedade parecem ser os mais safados, e os prejudicados que se mudem (ou esperem as demoradas respostas da justiça, pois a polícia não pode agir). O número do processo para pesquisar o andamento no site da Justiça Estadual é 022/2.10.0011258-1 (dia 2 de dezembro há uma audiência de conciliação com a moradora demandante).

Boate que teve interdição determinada pelo MP nega situação irregular

Os proprietários e o advogado da boate Tô Atoa, na rua Santa Cruz, próximo à UCPel, que teve o pedido de interdição feito pelo Ministério Público nesta quarta-feira (27), negaram hoje a situação irregular do estabelecimento. Eles mostraram alvarás de funcionamento e o projeto de isolamento acústico aprovados pela prefeitura. Segundo os administradores da boate, foram feitas obras para evitar transtornos à vizinhança.
O processo de interdição foi motivado por um abaixo-assinado de moradores, que alegam excesso de barulho no local. No mês de julho a boate já havia sido fechada temporariamente por irregularidades, mas foi reaberta após a concessão de licenças.

O caso está tramitando na 6ª Vara Cível de Pelotas, e o Ministério Público aguarda decisão sobre o pedido de liminar. Enquanto isso, a casa continua funcionando normalmente.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Ocaso



Creio no ocaso, 
Creio no acaso.
Na dor de renascer e na vontade de crescer


Creio que estás aqui, Creio no céu ou no mar
E no brilho do olhar que me ajuda a respirar


Creio em ti e em mim, na tua luz e na nossa luz
Creio nesse ocaso e que por acaso acabou de nos unir
AnaTe nov10

sábado, 13 de novembro de 2010

Chile...com sabor de poesia!

Foto - Na entrada da casa de Neruda, em Isla Negra, ainda sem saber extamente o que me aguardava.

Quando a minha mãe me contou que a Casa de Pablo Neruda, na Praia de Isla Negra, estaria no roteiro do passeio deles a Viña del Mar, decidi pegar o ônibus e fui passar um dia com eles.

Eu já estava em Santiago, mas não havia acompanhado ao passeio ao litoral. Havia decidido ficar com minha tia mais uns dias em Santiago.

Mas ir a Isla Negra seria maravilhoso e me revelaria o lado de Neruda que eu não conhecia.

Foto do quadro de Neruda, em Isla Negra.

Que os literatos perdoem meu atrevimento: falar de Pablo Neruda é para poucos! Parto do princípio que o importante não é narrar, descrever ou contar coisas, pois disso a internet está cheia mas, seguindo a idéia de Neruda, quero expressar sentimentos que rondaram naquela casa, nomeada “La Sebastiana”, no dia em que estivemos por lá.

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Naquele dia ensolarado de fevereiro, esperamos as guias turísticas nos buscarem de Van no Hotel para levar-nos até a “La Sebastiana”. Conosco os norte-americanos Deweys, Brad e Carol, pais do Tom, nosso "irmão" no ano de 77 em Pelotas, pelo intercâmbio do AFS.

Faltava pouco para o começo do Festival de Viña. O Hotel O’Higgings estava “fervendo” com os fãs, canais de televisão e repórteres.
Quando cheguei a Viña, quis entrar no Hotel e fui barrada pelos seguranças: “su credencial, señora!”. Mas consegui esperar os papis do lado de dentro.


Foto - Vista da praia desde o túmulo de Neruda.

Mais do que a própria poesia, fui lá para descobrir o que “movia” aquele homem tão romântico e sensível. Queria saber o que lhe inspirava tanto a escrever coisas tão profundas sobre o amor e as relações humanas.


Assim, fomos no dia seguinte à Isla Negra.

Fomos em direção a Santiago, oeste, e logo depois, dobramos à direta, tomando rumo ao litoral sul. A viagem durou 1 hora e meia, com direito a 2 paradas: uma num paradouro e outra em um mirante, onde tirarmos fotos da vista de Valparaíso e Viña del Mar.

Chegamos a Isla Negra.

Isla Negra é um lugarejo turístico, como algumas praias no litoral chileno: tranqüila, discreta, rochosa, íngreme, com ruas de terra e alguns turistas que admiram suas águas brabas e geladas e aproveitam o sol forte do verão.

Mas a Casa de Pablo Neruda é particularmente visitada: pessoas que vêm de longe....muito longe, atrás de sua história e poesia! Mas chilenos também que vão atrás de sua própria cultura.

Foto - ao fundo, a Casa de Neruda.

Revendo as fotos da visita, me lembro do detalhes românticos que ele pôs em cada detalhes e suas frases sobre cada cantinho.


Ví no poeta um romantismo profundo e até depressivo, mas um amor delicado e dedicado às mulheres, aos objetos, ás esculturas, ao mar e as histórias.

Claro, Neruda era canceriano, do 12 de julho, com características fortes: o lar, o mar, a comtemplação, os amigos, a comida e as artes.


Ao entrarmos na casa, pelos fundos, onde estão as toras de madeira para esquentar no inverno fomos recebidos por uma frase tipicamente “Neruda”: “regresé de mis viajes; navegué construyendo la alegria”.

Foto - O início da visita pela casa começa por esta parte: entrada da sala e depósito da lenha para a lareira.

A primeira sala que visitamos foi a sala principal.

Infelizmente, não tenho nenhuma foto da parte interna da casa pois não é autorizado.


"Neruda compró la casa de Isla Negra a un español socialista, viejo capitán de navío, retirado, que la construía para vivir con su familia. Como la casa estaba a medio hacer, el poeta pudo terminarla a su gusto; continuó la estrecha ala de cemento con un ancho living-room de piedra, en el cual abrió un enorme ventanal que causa el asombro de los arquitectos y entendidos: desde allí pueden verse la playa, el rompiente de olas, el vasto cielo y una larga extensión de costa que va hasta el puerto de San Antonio.” Margarita Aguirre (www.uchile.cl)


Nessa sala principal está a maioria dos “mascarones de proa”, estátuas de madeira que os navios levam na proa. Uma delas, de olhos de vidros que nos dias de inverno, parecem chorar por causa da umidade condensada com a calor da lareira.

Neruda dizia: “ ela chora com saudade do mar”.


Do outro lado da parede, a figura de um pirata enorme: “ele sempre foi apaixonado por ela; mas o amor e saudade do mar, não deixaram que esse amor se realizasse”.


Foto - Vista de o quarto de Neruda onde se vê a sala a esquerda e o corredor a direita, com peças de sua coletânea.

A sala é aconchegante com várias estátua de proa, copos coloridos, sofás com apoios de pés, uma parede de pedra aonde está a enorme lareira. A parede contrária dá uma vista ao mar, como outros tantos lugares da casa.


As próximas salas lembram o interior de navios: as portas pesadas de madeira, as cordas e a decoração. A gente precisa abaixar a cabeça ao passar pelas portas


A sala de jantar tem a mesa decorada tem jogos americanos com fotos de caravelas, cada uma com seu nome e ano. As janelas têm no seu parapeito, enormes garrafas de vidro: de um lado, garrafas com as cores do mar; do outro, com as cores da terra. A cozinha foi modificada, mas ainda guardam as panelas, pratos e talheres. Na porta da cozinha dizia:” não entre sem ser convidado”. Para Neruda, a cozinha guardava mistérios que ninguém podia desvendar. Não era do interesse de ninguém.


Depois, no escritório, as coleções de cachimbos, de garrafas com desenhos de areia (vindas do Brasil), outras com réplicas de barcos, coleção de borboletas, máscaras de todos os lugares do mundo. Ali também está um telescópio, que ele nunca pôde usar, pois já estava no hospital, antes de morrer e um enorme globo terrestre


Nessa sala, está “Guillermina, La Desbergonzada”: outra estátua de proa de navio; Escandalosa, isolada, olhando o mar. Estátua de seios à mostra, de peito aberto como quem enfrenta o vento abrindo o caminho pelo mar. Ele dizia sobre ela: ”Guillermina não pode ficar junto com as outras; ela pode convencê-las a mostrarem seus seios também”.


Poema sobre uma estátua de proa:

"En las arenas de Magallanes te recogimos cansada, navegante, inmóvil bajo la tempestad que tantas veces tu pecho dulce y doble desafió dividiendo en sus pezones...


A próxima sala lembra sua vida em Temuco: nela está um cavalo de madeira de tamanho natural e muitas peças indígenas.


Esse cavalo pertencia a uma loja. Durante anos, desde criança, Neruda foi admirador daquela figura enorme e encantadora. Anos depois, a loja sofreu um incêndio. O cavalo “sobreviveu”. Num leilão, Neruda o arrematou. Quando chegou à casa, Neruda fez uma festa ao cavalo convidando seus amigos. Cada um traria um presente. O cavalo recebeu estribo, chales de lã, freios e três rabos.


Pablo dizia: “ele é cavalo mais feliz do mundo, por que tem 03 rabos”. Para não decepcionar os amigos, os rabos foram colocados: 02, no lugar correspondente e 01, na base do pescoço.


A última sala, construída pela Fundação, tem todas as conchas recolhidas por Pablo Neruda ao redor do mundo. Outro momento significativo para os visitantes.


“Miles de pequeñas puertas submarinas se abrieron a mi conocimiento desde aquel día en que don Carlos de la Torre, ilustre malacólogo de Cuba, me regaló los mejores ejemplares de su colección. Desde entonces y al azar de mis viajes, recorrí los siete mares, acechándolos y buscándolos” P.N.

Foto - Vista do quarto de Neruda.

Não posso esquecer de seu quarto: um dos lugares mais poéticos da casa com vidraças grandes, deixando que o sol batesse na cabeceira da cama ao amanhecer e deixando que Pablo visse o pôr-do-sol olhando aos pés da cama. Ele pediu que construíssem um móvel de madeira na sua cabeceira para que a arrumadeira não mexesse na posição de sua cama. Ainda guardam sua roupas, fantasias e chapéus.


Foto - Descida do quarto ao pátio.


A vista do mar de cada canto e janela da casa é particularmente inspiradora. Pelas abertura, o mar, as árvores e o sol.


Do lado de fora da casa, outras histórias são contadas.



Existe um barco na frente da casa, “estacionado” na areia, ao lado de um campanário. O barco, dizia ele, era para convidar os amigos a tomarem “uns tragos”. Mas tinham que tomar até ficarem “mareados”. É que como Neruda era apenas apaixonado pelo mar e não era navegador, dizia que o objetivo era fazer de conta que recém haviam voltado do alto-mar. E para chamar os amigos, o campanário em forma de estrela.

A âncora (foto) foi trazida do sul do Chile para fazer parte de sua coleção.

Seu túmulo está ali, no jardim, declarando seu amor ao vento, ao sol, ao mar e a sua última esposa, Matilde, que descansa também ali.


Depois de tantas narrativas e histórias do poeta, tínhamos a nítida impressão de estar com ele por ali, atrás de cada porta, através de cada concha recolhida por todas as partes do mundo, de cada taça de vidro, de cada estátua de proa, de cada objeto harmoniosamente organizado pela Fundação Pablo Neruda.


Lá deixamos nossa admiração, nosso orgulho de ter sido um cidadão chileno tão exemplar, deixamos nossas lágrimas e nossa saudade.

Tudo lembra Neruda e a sensação é nítida de que ele está ali com cada visitante.


Terminamos nossa visita com um almoço tipicamente chileno, com visita ao mar, no restaurante dentro da Fundação: um saboroso filé de côngrio grelhado, que ainda me dá uma sensação agradável, não apenas pelo sabor, como pelas companhias.


É muito o que se pode falar da casa, de Neruda e de sua vida poética, cultural e política.


Despeço-me com um de seus poemas, escrito num cartão que a mami me comprou no Aeroporto, antes de partir:


-“Me gustas cuando callas por que estás como ausente, y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.

Parece que los ojos se te hubieran volado y parece que un beso te cerrara la boca”


Ana Teresa – 04.Abril.05

Chile...o retorno com sabor a empanada!


Foto - Puerto Mont, no Mercado de Angelmó - comida, música e muitas alegria.


Escolhi este título por que foi uma frase repetida por lá - sabor a empanada!

Tudo estava em torno da volta, do retorno, das lembranças...tudo misturado com as expectativas.

Havia 10 anos que não voltava ao Chile. Desta vez, faria exatamente o mesmo itinerário de anos anteriores.
Exatamente o mesmo? Impossível. Para quê, não é?

Muitas coisas, desta vez, haviam de diferente. Creio que muitas...confesso, quase todas. Nada era igual como antes.
1° - eu estaria partindo do Rio de Janeiro (calor, praia, turismo...), e não mais do sul do Brasil (frio, serra...). Isso me daria um outro olhar.

2° - os Papis estariam lá e o Tonico, meu irmão mais velho, não (já teria voltado ao Brasil).

3° - estariam os Deweys, casal de norte-americanos pais do Tom. Isso acabou fazendo da viagem, um roteiro “completamente” diferente.

Aliás, seria (e foi) um prazer participar dessa nova aventura pelo mundo e participar da 5ª viagem do quarteto.

Pois isso, reservei minhas férias para passear com eles.
Em outras palavras, eu queria me divertir.
Esse foi meu intuito: relaxar, esquecer do trabalho, pensar outras coisas, ver outro mundo, sentir outros cheiros...de uma nova forma.

Mas não posso esquecer que minha ida se deu a uma vontade interna enorme de rever a Nanita e o Toño, meus tios.

Depois da doença pulmonar da Nanita, comecei a ligar a Santiago com maior freqüência. Imaginei e senti que precisaria conversar com a Nanita pessoalmente e vê-la de perto. Adoro suas conversas, suas histórias de bastidores, seus comentários e sua paciência de ouvir, sua vontade de participar, de comentar sobre minhas histórias, dizer frases de efeito e rir comigo.

Até que eu estivesse com a passagem na mão, ela não acreditava que eu estaria com ela em algumas horas.

Por outro lado, me senti em dívida com o Toño que tantas vezes me disse ao telefone: “mi querida sobrina, estaremos aqui esperándote; esta es tu casa cuando la necesites; esperamos que vengas pronto”. Queria muito vê-lo.

Mas não posso esquecer dos imensos favores e gentilezas que os Deweys me fizeram quando estive na Califórnia. Acho que essa era outra dívida: a retribuição. No momento em que eu tinha decidido ir ao Chile e participar das aventuras deles, liguei para Orinda, para comunicar-lhes minha alegria. Acho que num primeiro momento, ficaram um pouco assustados. Afinal, o que eu faria no meio deles. Mas durante a viagem, eles me deram a grande tarefa de ser a “navegadora” do motorista Brad. Assumi com todo meu coração.

Num determinado momento, a Carol me disse: “estamos muitos felizes de que tu estejas aqui conosco; se é que tu ainda não o saibas; estamos muito, muito felizes”, me dando batidinhas nas costas.

Então, o retorno ao “país das maravilhas”, das paisagens, das águas termais, dos mapuches, das feirantes de rua, dos peixes, dos vinhos e vinhedos, do mar, das montanhas e “cerros”, das estradas perfeitas, das surpresas, de Doñihue, dos “pasteles de choclo”, do artesanato, das empanadas, dos mercados municipais, dos festivais de Viña, dos ponchos, dos “duraznos”, do cobre, dos rios, das corredeiras, do lapislazuli, dos vulcões e lagos, do pisco, dos colonos, espanhóis, alemães, índios...ufa!...e como se tudo isso não bastasse, o país de Pablo Neruda e Gabriela Mistral.

Era lá que eu tinha escolhido estar, depois de tantos anos.

E lá consegui esquecer de tudo.

Quando retornei ao trabalho, me perguntaram se tinha descansado. Foi impossível dizer que sim. Eu estava exausta! Eu estava meio hipnotizada e desnorteada. O corpo estava cansado de ver tantas coisas, de conversar com tantas pessoas, de variar tanto as imagens que se apresentavam na minha frente a cada dia.

Cada anoitecer guardava uma surpresa para o dia seguinte. As novidades se desvendavam a cada momento. Cada cidade guardava seu encanto. O que estava planejado , não era exatamente o que ia acontecer: tudo vinha enriquecido da humanidade e das imagens que até hoje me vem à mente.



Foto - Mercado de Santiago, passeio obrigatório.

O roteiro foi intenso, desde Santiago, a Viña del Mar, Valparaíso (por três dias) e logo depois mais de 1000km vencidos até o sul: de trem até Temuco e de carro até Puerto Mont, atravessando as terras de Pucón, Villarica, Valdivia, Termas de Puyehue e Puerto Varas.

A natureza nos deu presentes como o de Puerto Varas na última noite no Chile para os Deweys: um anoitecer de lua cheia, fazendo um “desfile” por cima do Vulcán Osorno e brilhando no Lago Llanquihue. Para encerrar essa noite magnífica, cantei aos Deweys “Si vas para Chile” traduzindo cada palavra, em homenagem a eles.



Foto - Puerto Varas, no sul, no último dia no Chile. Eu seguiria a Santiago dois dias depois.

Acabamos todos emocionados. Lembrei que tínhamos passados por todos aqueles lugares que a canção mencionava e que agora eles a compreenderiam melhor. Minha primeira frase logo após eles terem aterrizado no Chile foi “You will love Chile!”. Senti que eles ficaram surpresos, como quem quer dizer “como ela nos diz isso com tanta certeza?”.

E vou terminar esta narrativa dizendo que tive um privilégio que poucos tiveram: comi a empanada mais suculenta, macia, perfumada e saborosa de toda minha vida – A empanada da Nanita!
Fiquem com esse sabor, que eu sei que todos um dia já sentiram e fazem questão de não esquecer.

Ana Teresa – 11.Março.05

Foto - Feira do bairro perto da casa de minha tia - passeio obrigatório, mas naquele dia ela teve companhia. O Chile é o país das frutas grandes e saborosas.


Foto - Forno de barro e as famosas empanadas legírimas chilenas na Feira do Dominicos.


Foto - em Santiago, o Mercado - merece uma visita especial com almoço típico. Muitos frutos do mar, algas e peixes


Foto - Ainda no Mercado, comprando azeitonas pretas, as mais macias e saborosas que já comi. Encomenda especial da minha tia.


Foto - Em Doñihue, terra natal dos meus avós, minha tia colhendo boldo nos fundos do pátio da casa de parentes.


Foto - Sobremesa melhor não existe! A melancia chilena de sementes pretas e de "fechar o comércio" e meu pai não nega um belo pedação. É assim que os chilenos comem - um pedação.


Foto - Nueva Imperial, pertinho de Temuco. Fomos até lá para ver o CHILE Tipico - e conseguimos - na praça uma mulher com trajes indígenas da região e esta feira de flores, frutos, vegetais e queijos. Todos nos olhavam e riam porque tirávamos fotos da feira.


Foto - Puerto de Angelmó - porto, restaurantes, mercado e shopping. Lá tem um cheiro de Chile. Lá tem tudo. Lá tem música ao vivo, comida típica com os frutos do mar do sul. Tudo que a gente quiser achar de lã, ponchos, chapéus, blusões, luvas, mantas, artesanato com pedras chilenas (lapis-lazuli) e muitas coisas inesperadas acontecem.


Foto - Festança em Valdívia, regada com empanadas.

domingo, 7 de novembro de 2010

Os mineiros, a mina e eu

Os mineiros e "rescatistas" (socorristas) chilenos estão de parabéns!
O Chile, desde muitos anos, se prepara para as tragédias.
Os terremotos que abalam o país desde sempre são os principais motivos de treinamentos.
Nas escolas, as simulações de situações de risco, são obrigatórias.



Desta vez, os chilenos deram um exemplo ao mundo de eficiência e preparo.
Apesar da mina São José, em Copiapó, norte do Chile (onde os chilenos
ficaram soterrados durante cerca de 68 dias), não ser o melhor exemplo de segurança aos trabalhadores, com falhas nas medidas e nas condições de segurança, o
resgate foi vitorioso.
O presidente Sebastian Piñera, o Ministro de Minas, os socorristas, os
familiares e o povo chileno foram partícipes diretos da saída deles das
profundezas.

Naquela noite, do dia 13 de outubro de 2010, quando o terceiro mineiro saia, liguei
para Santiago. Minha mãe dizia da emoção e comoção de todos por lá e disse
-"todos os sinos das Igrejas estão tocando!"
Assistimos tudo on time através da tv e on line pela internet.
A "quase" tragédia foi divulgada por todos os meios de comunicação e mudou positivamente a imagem do Chile perante o mundo todo.
Mas para nós, apesar de não termos nem parentes nem amigos diretamente envolvidos, o acontecimento teve um outro siginificado - lembranças das pessoas, dos parentes e das histórias contadas por eles.

Nosso primo, Gustavo, trabalha lá na região como engenheiro de minas, mas com ele nada aconteceu.
Mas me lembrei das histórias que minha mãe contava sobre a mina "El Teniente", na vila de Sewell, ao sul de Santiago.
Neste ano, em maio, eu e ela estávamos no Chile, pelo falecimento da minha tia Nanita (já postado aqui).
Lá, encontramos com Inecita, afilhada da minha tia Tegualda, falecida em 1962. Tegualda, conhecida como "Guatona" era casada com engenheiro de minas, Eng. Agustín Larrain, e morou em Sewell (que os chilenos dizem "suhuel") por mais de 25 anos.
Quando Larrain e Tegualda casaram foram morar em Sewell. Lá ficaram por uns 4 ou 5 anos. Larrain já doente, pela perda de um rim com um acidente acontecido nas minas, teve que retornar a Santiago para ser tratado.
Larrain teve um grande amigo durante seu tempo em Sewell, Eng de Minas Rômulo Lizana, casado com Inez de los Reyes, com quem teve Inecita. Inez era filha do prefeito de Machali e levou Tegualda até aquela cidade para apresentá-la a um amigo - seu futuro marido Agustin, solteirão que acabava de perder a mãe. Ele 20 anos mais velho que ela. E se casaram menos de um ano depois.
Minha mãe, ia passar as férias de verão em Sewell e por alguns anos passeava por lá em companhia da Inecita. Tinha que levá-la a tomar banho de raios ultravioletas. Em Sewell há pouco sol durante o ano e banhos como esses sempre foram necessários para se evitar doenças, como o raquitismo.
Foto - Inecita e minha mãe, em Santiago (mai.2010)


Foto - Minha Tia Tegualda e meu tio, Eng Agustin Larrain, na mina El Teniente.
Elas aproveitaram para recordar alguns momentos da adolescência e eu para perguntar tudo o que podia, para entender nossa história.
Ouvindo, vi como tudo foi marcante para elas. Riam de tudo - as brincadeiras, as briguinhas, os passeios, as subidas e descidas pelas escadaria e a neve e o frio nas montanhas.





Mas o que foi Sewell e a Mina El Teniente?
Encravada nos Andes, 120km ao sul de Santiago e 50km a oeste de Rancágua, Sewell fica a 2400m sobre o nivel do mar. Um lugar particular, cheio de histórias e diferente de tudo - impossível não ser de outra forma.


Esta mina tem começo na época pré-hispânica com os indígenas da região. Em 1822, as terras foram recebidas por herança e adquirida por Juan de Dios Correa, que foi tenente de Bernardo O'Higgins na Batalha de Maipu. Em 1897, Enrique Concha y Toro comprou a fazenda. Em 1903 vendida ao americano Willian Braden que iniciou a industrialização da mina com a empresa Rancagua Mines. Logo após, a mudou o nome para Braden Cooper Company em sociedade com Barton Sewell, um alto executivo americano.

De 1908 a 1940, a produção passou de 250 toneladas por dia para 20mil
toneladas, trocando também de proprietários da mina.
Em 1945, 355 mineros morreram por asfixia de monóxido de carbono.
Em 1965, a mina produzia cerca de 75 mil toneladas por dia.
Em 1967, o governo chileno comprou 51% das ações da empresa e começou a
nacionalização da mina.
Em 1960, foi o auge em número de habitantes - cerca de 15 mil - em Sewell e
em 1971, 100% nacionalizada, começaram a ser transferidos a Rancágua, porque o
Estado não conseguia sustentar os altos custos da vila. Em 1977, havia apenas
1500 pessoas em Sewell.
Nos anos 80, a mina começa a mostrar sinais de término do mineral
secundário e começa a exploração do mineral primário, em pedra mais dura e com
um processo mais caro de extração.




Com cecrca de 2400 km de galerias subterrâneas, a mina "El Teniente" é considerada a mina de cobre maior de mundo. Em 2006, a vila foi declarada Patrimonio da Humanidade pela UNESCO.

Lá os mineiros, depois de viverem nas galerias, de forma subhumanas, passaram a viver em uma das melhores vilas da regiao - Sewell.
Por influência americana, a vila se tornou um lugar moderno, com estrutura de cidade de primeiro mundo. Os trabalhadores morava melhor que muitos chilenos. Havia um hospital, cinema, piscinas termais e escola.

Hoje, só restam algumas casas na parte central. As demais, foram demolidas.



Para conhecer Sewell, existem passeios turisticos que saem de Santiago e fazem visitatambém a mina.

Os mineiros, a mina El Teniente e eu
Interessei-me por este assunto. Minha estada em Santiago neste ano, me fez relembrar e investigar as histórias da minha familia. O acidente trouxe tudo à memória.
Por três vezes neste ano, o assunto se repetiu.
Os mineiros, a mina e eu!!!
Sabe-se que ao redor do mundo, existem milhões de mineiros.
Muitos morrem todos os anos por condições inseguras ou descaso.
Eles são corajosos, sofridos e até o momento, ignorados por muitos de nós.
Mas certamente após este acidente, não apenas eles, mas as regras serão lembradas e revisadas.
Assim, menos mineiros morreram, menos mineiros ficarão doentes e menos famílias sofrerão.
E o futuro?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A caixinha está comigo e a foto ainda dentro dela!

Estamos aqui de novo, pessoal, recordando acontecimentos!

Quando estive em Libertad 450, em Santiago do Chile, neste ano, logo após o falecimento da Nanita, encontrei esta foto.

Encontrá-la pode ter sido algo simples. Até comum. Afinal, fotos antigas, podemos encontrar sempre. Mas não nas circunstâncias que a encontrei.

A semana estava sendo muito dura para nós. Mexer nas coisinhas dela e ainda ouvir que alguns queriam levar tudo dela, não era agradável. Talvez nada ficasse lá, se ela não tivesse algumas pessoas que cuidassem das "coisinhas" dela.

Como vocês viram em um post deste blog, antes de mexer nos livros da Nanita, pedi licença a ela. Conversei baixinho e disse que se ela estivesse ali, me vendo, que ela tivesse a certeza de que eu ia ver coisinha por coisinha, com todo respeito. Afinal, tudo era dela e, muitas delas, coisas que ela nunca deixava mexer, como "el cajón de los recuerdos". Ele ficava em baixo da escada e nem tinha tantas coisas pessoais, mas simbólicas e, lógico, significativas para a Nani.

Foi então que, mexendo nos livros e estando lá em Libertad, uma caixinha pequenininha me chamou a atenção. Não sei por que olhava para ela sempre. Fiquei intrigada porque os desenhos, em cima talhados em madeira, eram de araucárias. Parecidos com uns quadrinhos que estavam na parede, na entrada à direita, segundo a Mami eram presentes do Brasil (parece que do Papi). Talvez aquela caixinha não tivesse muito significado. Estava ali, ao lado da TV. Talvez com medo que se perdesse ou que continuasse sem muito significado, pedi para pegá-la e trazê-la comigo.

Depois de tanto olhá-la, naquela semana, abri.

Dentro dela estava esta foto minha com 11 dias, no colo da Mami e o Carlos Eugênio (na época com quase 2 anos) e o José Cláudio (com 3 anos e meio) olhando para mim. No verso, a descrição da foto, com letra da Mami.

Quase tive um "treco" no coração!

Eu sabia que ela estava ali por perto. Nossa! como senti a presença dela.

A caixa está aqui comigo e a foto está dentro dela ainda.

Saudade de ti!
Ana Teresa