Iniciamos este blog em outubro de 2008, para divulgar o lançamento do livro de Francisco Dias da Costa Vidal sobre suas memórias da Praia do Hermenegildo. Mas continuaremos contando sobre nossos passeios, nossas experiências, nossas artes, e as novidades do nosso Planeta. Convidamos a todos os amigos a participarem e assim, continuarem a fazer parte da nossa história! Sejam Bem-vindos!
terça-feira, 15 de junho de 2010
Música Libre 1972
Lá ouvimos novidades como Wakadi Wakadu (na versão italiana; veja clip da RAI), Alone Again (americana) e músicas argentinas como Salta, Pequeña Langosta, com aquele verso que nunca entendemos (salta salta salta, pequeña, al costado, que hoy están de enganche todos los pescados).
Alguém conseguiu vídeos perdidos de 1972 e pôs num videoplayer com televisor em preto e branco. Um deles é Mama Papa, do grupo Cyan, formado por músicos de estúdio na Itália (não o mesmo grupo inglês dos anos 90). Confiram a letra abaixo (não está checada).
Oh mama, oh mama, ma-ma-ma-mama
Yeah, I wanna your daughter, aha
Oh papa, oh papa, pa-pa-pa-papa
Yeah, I wanna your daughter, aha
Mama, mama, mama, please answer me soon (Be sure you wanna keep my daughter)
Papa, papa, papa, please give me a tune (Daughter, father, father -?)
Tune, a tune, a tune, then try it yourself (All together, dare to ask you)
Lord, oh Lord, oh Lord, there must be a way
Lala, lala...
Mama, mama, mama, I gotta reach out (Father, father, all is just the same)
Oh, papa, papa, papa, I'd even lift my head up (look at you, you look like a dead)
Tune, a tune, a tune, that drives me insane (Dance alone, you can do this thing to me -?)
Lord, oh Lord, oh Lord, listen to my plea
Sombras Tenebrosas
domingo, 13 de junho de 2010
Retornei de uma missão
Com o falecimento da Nanita, fui a Santiago dia 28 de Abril, por 7 dias.
Não eram férias, mas era uma semana de dispensa que já tinha no trabalho, quando já tinha programado ir a Pelotas pelo aniversário do Papi, da Nininha, Simone e Fenadoce.
(Estas fotos foram no retorno, porque a ida foi a noite, mas começo aqui meu relato lembrando que quando a gente atravessa a Cordilheira dos Andes, tudo muda)
A Cordilheira já estava branquinha, mas ainda pouco para o que deveria.
Na ida, sobrevoamos a cordilheira a noite mas no retorno fotografei e passamos 15 minutos sobrevoando as montanhas, com bastante turbulência.
Cheguei dia 05 de junho, sábado, em Macaé. A viagem ao Chile foi necessária e importante. Uma missão!
Saí de Macaé, sexta, dia 28, às 11h. Peguei o avião no Galeão às 16h e com atrasos, cheguei a Santiago às 22h30.
Lá me esperavam a Mami, a Verônica (que cuidou na Nanita nas últimas horas) e as filhas Carolina (23 anos - estudante de direito) e Catalina (12anos).
Dali, numa noite fria e chuvosa, partimos para Libertad 450.
Depois de conversar um pouco, dormimos as 2h.
Aos poucos fui sabendo como seria a semana. O que precisava fazer, mas ainda sem saber exatamente, qual seria minha missão específica naquela jornada que só começava.
As coisas estavam iguais. A mesma esquina, a mesma casa...
Só estranhei um portão de ferro que fecha o beco onde mora a Nanita (mora, ela ainda mora lá). As coisinhas da Nanita, no sofá, deixada pela Mami - uma manta, um cachecol, as peinetas, a maquiagem, o creme Nivea. Do lado do sofá, um altarzinho - a foto dela com Toño, a vela do velório (igual a outra que foi a Doñihue com as cinzas), umas rosas brancas artificias grandes, os óculos.
O relógio, dado pelo Jaime, irmão do Christian, tocando meio desregulado, a mesa grande com mantel, a televisão em cima da comoda vermelha, o baú (que a nanita guardou suas coisinhas e o chamava de "bau de los recuerdos"), o pátio cheio de verde, e as fotos na escada - umas poucas delas deixadas pela Mami. A Poti é a mais presente nas fotos. Acho que eu também. Nessa hora lembrei delas conversando ao telefone no dia 25 de abril. Nunca saberei o que conversaram, mas foi lindo ouvi-las. A Poti muito a vontade convensando. A Nanita do outro lado, talvez se fazendo entender..
O beco continua igual. Com alguns novos moradores - a vizinha da esquerda. Vi o Christian que falou comigo em português de longe. Contou-me que viu a Nanita saindo ao hospital e que jamais queria lembrar dela daquele jeitinho e sim, como éramos, quando crianças - quando nos reuníamos na casa dele, na calçada. A rua com alguns prédios novos e aqueles velhíssimos, próprios do bairro e da região velha de Santiago - alguns deles ruidos pelo último terremoto.
Por ali perto, a Praça del Roto Chileno, o supermercado, a padaria, os mercadinhos, a lanhouse, a lavanderia, a "peluqueira" onde a Nanita cortava e pintava os cabelos.
De repente, a Mami me chama de Nanita. Nossa que susto! e eu disse - "Não te preocupa, ela tá aqui conosco, nos cuidando!". Não se explicam os motivos, mas me senti tão bem na casinha - mesmo com as coisinhas dela ali, separadinhas, como se ela já fosse chegar - a ausência dela era horrivel - mas acho que ela estava ali, nos acolhendo, como sempre fez.
"Mexia" nas coisinhas dela com toda a autorização, com todo cuidado, com todo meu respeito que sempre tive com ela, sentindo que eram parte dela. Ela ficava tão feliz quando eu ligava. E ela, deixou suas coisinhas e deixou suas histórias. As pailas que contramos denunciava nossa infância. O gatinho de pelinhos suaves era o xodó dela. Os cremes e os batons ela nunca esquecia. As faquinhas de cortar "pan" amassado e, abrindo o pão quentinho, era só passar manteiga.
Pedi "permiso" para ela antes de vasculhar seus livros, suas lembranças e suas fotos. Tenho certeza d que ela estava ali comigo, me conduzindo, até cumprimir minha missão.
A Verônica, que cuidou da Nanita nos últimos anos, vizinha, mulher disposta, empreendedora, batalhadora, com jeito próprio de chilena. Mãe da Carolina, na foto abaixo a esquerda, e da Catalina. Elas estiveram conosco, contando, ajudando, orientando...de manhã, de tarde e de noite. As meninas ainda sonhavam com a Nanita, que lhes ensinou sobre a vida.
Os dias foram passando e as descobertas foram sendo feitas.
Soubemos como foram as últimas horas. Muito triste para contar aqui, e tudo que aconteceu nos últimos anos que a Nanita nunca contou para ninguém.
Numa das manhã tivemos que ir no INP, instituto de previdência do Chile. Fomos ver a possibilidade de receber o seguro que a Nanita teria direito. Mas não conseguimos, porque ela não tinha irmãs viuvas ou solteiras e nem sobrinhas solteiras e chilenas.
Os dias estavam frios, ensolarado e nublado, com chuva e sem chuva.
Aproveitei para tirar umas fotos da praça.
A Mami havia dado todas as roupas da Nanita, depois de lavá-las na lavanderia. Isso era um dos desejos dela. Foram 3 sacos grandes. Tudo foi para o Hogar de Cristo que a Paula, filha da Chela foi buscar lá. (Foto abaixo a Chela e a Paula)
Aos poucos fui revisando os livros. Busquei algumas coisas pessoais dela.
A Mami havia achado uns escritos - folhas soltas em formato de diário, mas com datas saltadas, falando das idas e vindas ao médico.
Tudo empoeirado, algumas coisas rasgadas, amassadas, sujas.
No velador dela, tudo como estava. Na mesinha ao lado, o creme, algumas fotos. A minha foto grande que tirei no Rio de cima do Pão de Açúcar. Outra, do Baia e do Tiito pequenininhos. Na parede, uma foto da Tegualda, junto com outra grande dela dentro da primeira gaveta da comoda embutida.
Pensando em achar algo mais, comecei a organizar os livros dela.
Tudo sujo. Cada prateleira com uns 30 livros, quase todos presentes, em espanhol, em portugues, antigos e um nem aberto. Comecei pelo meio, onde havia uma caixa - nela cheia de cartas nossas - do Tonico pequeno, recém aprendendo a desenhar, a escrever, em portugues em espanhol - um pacote de cartas do Baia, outras poucas do Gordo, da Mana e minhas Achei o telegrama do papi avisando a Nanita que eu tinha nascido e um cartão com 3 anjinhos escrito pela Mami dizendo para ela - "estes 3 anjinhos são os irmãozinhos anunciando a chegada de Ana Teresa", com peso e hora.
Fiquei imaginando o que ela sentia e pensava. Como a gente esteve presente na vida dela e como ela era um símbolo pra nós. Nas cartas contávamos detalhes de nossa vida, de forma ingênua e até engraçada, usando palavras chilenas, mesmo tendo nossos poucos 9 ou 10 aninhos. Ameaçávamos a Nanita se não viesse ao Brasil logo nos visitar ou se não parasse de fumar. nas cartas declaramos nosso amor por ela. Achei uma caixinha de fotos - umas que nunca as havia visto porque tinham sido enviadas a ela e que não temos cópia. Achamos uma que a Mami estava com a perna e o braço engessados e que não descobrimos quando foi.
A cada prateleira, minhas mãos ficavam pretas de sujeira e pó. Mas de repente, achei uma carta dela para o Toño. Me sentei, com muita atenção, na cama dela, acendi a luz e comecei a ler, o que parecia um testamento. Era a carta que ela dizia a todo mundo que deixaria, mas que não sabíamos ainda onde estava. Uma carta muito dura, forte e cheia de coração.
Ela dizia o que deixava para cada um - a casa para Alicia Eugenia e Tantonio - que fosse vendida e entregue a eles o dinheiro. Mas por força da lei, a casa deve ser entregue aos irmãos vivos ou aos descendentes dos irmãos mesmo falecidos.- ou seja, um terço para a Mami, ao Toño e ao Gustavo e a Isabel. Uma máquina de costura a Alicia - "harto poco a quien le debo tanto"; o dinheiro - cerca de 1milhão de pesos (1900,00 dolares) para pagar o enterro, a cremação (desejo dela) o velório, "nada de missa, apenas uma celebração e direto a Doñihue", escreveu ela na carta, para pagar o anuncio no jornal e a passagem para a Mami de ida e volta ao Chile. Em dólares, uns 3mil, para a Mana e eu, se sobrasse, depois de pagar tudo.
"Viste Toño, tengo puras leceritas". Em todo momento ela dizia que não suportava a ideia de incomodar os outros, especialmente o Toño e escreveu "te pago en el más allá y nos veremos en Doñihue". Odiava depender dos outros, pedir ajuda e estar doente.
Imaginem o que significa ler essa cartas, entrega-la a Mami e depois ao Toño.
Essa era minha missão - achar a carta. Tudo ficou mais claro, apesar da dor e das lágrimas que todos derramamos ao lê-la. Que dor!
O Pelado e a Isabel estiveram lá em casa´para conversar sobre a casa e de fato eles vão querer a parte deles, que lhes é de direito e legalmente falando. Gustavo tem 3 filhos no Brasil - um musico em Goiânia, outro no Rio e uma casada em Urubici, numa fazenda, SC. Passei meus e-mails para termos mais noticias deles e irmos quem sabe escaneadndo as fotos de todos nós e mandando para eles.
No domingo, fomos almoçar todos juntos no Restaurante Juan y Medio, na Plaza Brasil (foto abaixo) - Toño, Alicia, Alicia Eugenia, Felipe, Maria José, Nana y e nós - era o dia do Patrimônio Cultural.
Os dias passaram rápido demais, mas foram intensos. Naquele dia, anterior a nosso retorno, ficamos com água fria, sem calefação. A Noite estava mais fria do que o normal. Pela manhã, as 3h45 a Veronica e Carolina acordaram conosco e nos despediram quando chegou a van.
Em Setembro, a Mami pensa em voltar ao Chile para definir coisas que ficaram pendentes.