A tarde ou a noite, os painéis iam acontecendo - uma programação vasta divulgada em diversos meios - painéis na rua, nos stands e nos mais diversos folhetos, com biografia dos autores e resumos dos livros que escreveram. Tudo em dois idiomas.
Alguns deles estavam sendo lançados ali mesmo - na FLIP.
Laura Restrepo e Hector Abad
http://g1.globo.com/flip/2011/noticia/2011/07/na-flip-hector-abad-fala-de-assassinato-do-pai.html
O painel foi belamente dirigido porém Hector (escritor, tradutor e jornalista) tomou a palavra e disse - "estou cansado de falar sobre meu livro. É só o que me perguntam. Então decidi falar sobre o livro de Laura (escritora, jornalista e militante política)". E iniciou um belíssimo e emocionante discurso sobre o livro da autora - "Heróis demais". Ambientado na Argentina na época da ditadura, é a história de uma mãe que após a morte do avô, vai participar da luta esquerdista armada e pesada naquele país, onde tem um filho de um revolucionário. Volta a Colômbia após 2 anos e quando o filho se torna adolescente pede para conhecer o pai. Ela e ele voltam a Argentina em busca dele - a figura ausente. Uma história autobiográfica e de seu filho, que estava presente no plenário. Ela, com traços de extrema esquerda (ajudava o governo nas relações com os pára-militares), disse que ela e Hector não eram amigos e que se encontravam pela segunda ou terceira vez ali. Insistia nessa frase - "não somos amigos!"
Depois de Hector contar sua história, entendemos. O pai de Hector, famoso e importante médico colombiano, havia sido morto pelos guerrilheiros (páramilitares) na Colombia por sua militância ativa pelos direitos humanos.
Foto - Laura e Hector dando-nos autógrafos nos três livros que compramos ali ao lado na livraria da FLIP. Ficamos uma hora e meia na fila aguardando.
Apesar da história, que os dividia naquele momento, estavam unidos pelas histórias e pelo título do painel - "Em nome do pai".
Hector em seu livro "A ausência que seremos"contava a história dele - seu pai. Leu partes de seu livro que deu ponta-pé inicial ao debate. "Ele era meu ídolo!" Um dos poucos homens de uma família, de mulheres, muito importante na Colombia, Hector foi reconhecer o corpo do pai e de seus bolsos retirou umas das poucas coisas que levava na hora da morte - um papel com uma lista de nomes de pessoas marcadas para morrer - ele, Hector, era um deles e um poema. Todos sabiam disso - o médico estava marcado. Este título foi inspirado em um poema escrito num papel e encontrado também no bolso de seu pai. Laura fez parte da inspiração do título - conta Hector - após o primeiro encontro que tiveram. O livro também conta a insvestigação longa para descobrir os assassinos.
Compramos, lógico! E na hora de pedir autógrafo, sempre aquela fila enorme de pessoas na espectativa. A fila dava voltas e a cada novo apinel, novas filas enormes que duravam mais de uma hora.
Foto - filas de autógrafos.
Emmanuel Carrère e Pèter Esterházy
Outro painel que assistimos foi dos autores francês e húngaro
http://www.flip.org.br/
"Como se não bastasse a densidade do debate, os idiomas não deixavam por menos: em francês e alemão os autores se entenderam, se identificaram e cativaram o público atento. O húngaro Péter Esterházy fez questão de explicar: “Eu falo em alemão no Brasil por conveniência daqui, mas perco muito não falando direto do húngaro”.
"... E eles falaram das próprias experiências. “Laços de família”, ao invés de tratar do processo criativo da escrita propriamente dita os autores cativaram o público contando as histórias de suas histórias".
"Peter vem de uma família com raízes na aristocracia húngara, que perdeu o "poder" depois da Revolução Russa, em 1917. Contou como descobriu tardiamente que seu pai era um informante da polícia secreta na Hungria".
O assunto "Laços de família" - unia os autores. Carrere nasceu em Paris, escritor, roteirista e diretor, teve alguns livros transformados em filmes.Talvez essa tenha sido a parte mais emocionate do painel. Peter contou que depois de 9 anos escrevendo apenas um livro, prometeu para si mesmo e para sua esposa que iria passar umas férias longe de tudo. Porém, ficou curioso ao saber o que a polícia secreta húngara tinha a seu respeito. Com a abertura política, escreveu aos órgãos competentes e recebeu a resposta do diretor do instituto. Achou aquilo muito estranho e foi ao encontro. Recebido muito estranhamente e de forma muito formal, foi separado numa sala onde o diretor lhe trouxe "seu" dissiê. Ficou supreso ao ver que havia apenas 4 folhas escritas. E pensou - "até que eu não era tão visado!"Porém, à medida em que o diretor lhe mostrava o dossiê, era a medida e a velocidade em que sua vida mudava. As folha manuscritas - "reconheci a escrita de meu pai". Ele era o informante, de mim mesmo.
Foto - Péter no painel transmitido no telão.
Joe Sacco
Foto - Joe Sacco autografando com um desenho no livro em que comprei.
Fomos ao painel de Joe Sacco como sugestão de uma amiga. Jornalista, maltês, naturalizado norte-americano, optou pelo desenho e pelos quadrinhos como uma forma de divulgar seu trabalho e reportagens sobre guerras e conflitos. Ao perguntarem porque refletir conflitos, ele respondeu que o que lhe interessa dos conflitos são os civis. Sua família sofreu muito no pós guerra e via como os civis inocentes sofriam no seu país. "O privilégio que tenho é desenhar o que nem as máquinas fotográficas conseguem refletir" disse Joe. Ele morou e visitou todos os lugares sobre os quais escreve e desenha - Palestina, Faixa de Gaza e Sarayevo, especialmente.
Muito simpático e comunicativo, desenhou para cada um da fila de autógrafos.
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