Iniciamos este blog em outubro de 2008, para divulgar o lançamento do livro de Francisco Dias da Costa Vidal sobre suas memórias da Praia do Hermenegildo. Mas continuaremos contando sobre nossos passeios, nossas experiências, nossas artes, e as novidades do nosso Planeta. Convidamos a todos os amigos a participarem e assim, continuarem a fazer parte da nossa história! Sejam Bem-vindos!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Nanita...um anjo no cèu!


Que foto boa, não é! Alegria, conversas, histórias,"recuerdos"...cada canto daquela casa (foto) em Doñihue, ao sul de Santiago, lembra a infância, a kombi, os primos, os tios...

Aos nossos leitores, que por ventura passem por aqui, saibam que nosso coração chileno hoje está partido ao meio, ainda em recuperação, com a sensação de perda e que de algo ficou grudado no tempo e no espaço, na imagem desta tia chamada Eliana, nossa Tita, a Nanita.
Foi domingo, as 11horas quando minha mãe me ligou desde Pelotas e eu aqui, em Macaé, acordando num dia ensolarado.
Não muito surpresa pela ligação, mas com dor pelo que ouvi - "uma notícia muito ruim, muito ruim", disse ela. " A Nanita está em coma".
Do outro lado da linha, talvez dois mil quilômetros de distância, silenciei. Segundos, ...não sabia o que dizer. Pressentia algo rruim, muito ruim.
Como conscientemente fui eleita a "senhorita internet", minha mãe me pediu para tentar acha r a passgem mais rápida para ir a Santiago do Chile. Temendo o pior, preços altos ou falta de vagas nos vôos, tive uma sorte bárbara de conseguir vôo quase direto naquele domingo, Porto Alegre-Santiago, via Buenos Aires. Escala rápida, coisa de uma hora.
Assim foi.
Enquando via as passagens, todo o tipo de simulação possível, tomando um café preto, um banho rápido, depois de mais de uma hora, um novo telefonema - "A Nanita faleceu".
S i l ê n c i o.....................................segundos que demoraram uma eternidade.

Aquela tarde de domingo foi a pior dos últimos tempos.
Não consegui falar com ninguém - só via televisão e chorava, sozinha no meu apartamento.
Mandei torpedo pros irmãos...mais s i l ê n c i o..........................pra Simone, que me respondeu sentindo uma dor parecida.
Esta época guarda momentos tristes e felizes para nossa família.
Domingo, dia 16 de Maio.................domingo.................Acho que Deus encontrou o dia da semana mais cômodo para todos nós - pudemos chorar sozinhos em casa, rezar, ir a missa, ligar, saber notícias, reunir-nos pelo messenger, pelo skype, pelo celular. De uma coisa estou certa - eu não conseguiria trabalhar naquele dia.
Cada um com sua dor, com seu penar, seu pesar...o choro foi de pena? de tristeza? talvez não...Foi de saudade? Não sabia explicar.
Muitos amigos me disseram que ela já havia vivido o suficiente e que Deus chamava ela e que por isso, não deveríamos chorar.
Mas para todos, existe algo que a Nanita levou com ela - a infância mais rica que uma criança poderia ter. Ela fumava muito e nós escondíamos os cigarros dela, sentindo-nos vitoriosos por ajudá-la na nossa mais ingênua intenção. Passávamos 3 meses no Chile, na casa dela. Ela vinha e passava meses conosco em Pelotas. Éramos muito pequenos e isso foram anos de vida.
Essas lembranças perduraram - os passeios, as conversas, as batidas de banana amassada, as brincadeiras na calçada, as aventuras pela cordilheira, pelas piscinas da cidade, as reuniões dos parentes, dos tios, dos primos, separando as brigas, defendendo os menores.
Sempre com o jeito de professora primária, acostumada com travessuras de crianças - cinco sobrinhos, apesar de trabalhoso, era o ambiente dela. Ela nos ajudou a dar as primeiras pedaladas de bicicleta...Ah, e as empanadas da Nanita?- Ah, aquelas empanadas não tinham iguais. Ainda bem que comi várias e disse isso a ela. Mesmo com as mãosinhas com artrose, lá estava ela, colocando seus segredos naquela massa.


Acho que esta foto foi o último passeio que fizemos juntas - foi em 2005 - no início do ano, quando os pais do Tom foram ao Chile. Depois de irmos ao sul, de trem e carro, despedi-me deles antes de atravessarem a cordilheira a Bariloche. Fiquei em Puerto Varas mais um dia e voltei de ônibus para Santiago. Deixei de refazer a travessia mais linda do mundo pelos lagos para voltar a Santiago e ficar com ela. "Por que não quiseste atravessar a cordilheira?" me perguntou ela. Disse "Já conheço. Prefiro ficar aqui contigo e conversar".

Faz uns 5 anos, vinha ligando para ela todos os meses.
Conversávamos horas, sobre tudo e no final sempre perguntava - "Agora, senhorita, quero perguntar o mais importante - e o teu coração, como vai?".
Solteira, com um casamento muito rápido de onde saiu quase fugida, ela era liberal comigo - sempre me dizia que os homens só incomodam e que os filhos sempre decepcionam, demonsttrandoo que viveu, a dor que sentiu e que assistiu vendo a vida dos parentes, dos amigos. Eu dizia - "solteira mas sozinha nunca". Ela dizia - "eso si me gustó!!!" E ria comigo.


Falávamos de coisas amenas, das mudanças na minha vida, sobre o aparatemtno quando me mudei, do trabalho novo, dos amigos, do grupo de rh que participo, das fofocas da familia, das maravilhas da Poti, da Nininha, afinal, era minha vez de ser a tia babona. E como ela repetia e imitava a Potira, através das histórias que a Mami contava. Dia 25 de abril, aniversário da Mami, a Potira e a Nanita conversaram por minutos. Que divertido isso!

Política? Claro, ela sabia de tudo que acontecia em todas as partes. Sobre o Chile, tinha sua opinião firme e forte. Ela era braba com os governantes. Quantas vezes a vi reclamar, opinar, criticar. Me contava tudo que escutava na rádio, lia no jornal quando podia.
Sinto não poder ter ido de novo. Mas ficávamos horas conversando.


Depois desses 5 anos, da última vez que a vi, estava magrinha. Ela me perguntou:> " Porque me dizem que estou magra se nunca fui gorda?"
Apesar de seus quase 84 (faltando dias), estava consciente de tudo, de memória invejável, postura de lutadora, com uma forma muito peculiar de levar a vida, com manias escondidas de beber um copo de vinho antes de dormir...mas o que é um copo de vinho para uma chilena como ela? Nada! Mas não era um copo, mas isto, não vem ao caso.
Mas é certo - hoje vou ao supermercado comprar vinho e vou direto ao "Gato Negro ou Gato Blanco". Foi ela que me deu uma garrafa desse vinho lá em Santiago - que delícia! E parece que Gato Negro já atravessou fronteiras e chegou a Macaé, como bom vinho que é.

Mas ela também escondia - tinha dores fortes, talvez de estômago, de intestino e aguentava firme a dificuldade de caminhar por ter caido e quebrado perto da cabeça do fêmur. Andava de "burro", froma de chamar o andador. Esteve meses sem poder dormir na sua cama. Dormia no sofá da sala. No inverno isso era um martírio para ela, mas disfarçava e não reclamava.
Lutadora e perseverante, aos poucos, conseguiu subir ao segundo piso e só decia e subia uma vez por dia.
No dia do terremoto, a Verônica, que estav cuidando dela. saiu correndo de casa. em plena madrugada e na escuridão, ela gritava na rua - Nanita" Nanita, espere que vou buscá-la!" A Nanita tinha fechado a porta de casa pelo lado de dentro. Verônica pulou o muro do vizinho e ajudou a descê-la. Deixou uma lanterna com ela e foi ver os filhos. Ela me contou essa sensação terível.
Mais tarde soubemos que ela teria pedido a Verônica para passear pela cidade para ver as consequências do terremoto. Corajosa, mesmo cheia de dor, não queria perder nada.



A casinha dela é um duplex, onde ficávamos todo nós durante nossos passeios ao Chile.
Enchíamos a casa, corríamos pelas escadas, entrávamos e saíamos. Enquanto os meninos viam filmes de terror na parte de baixo da casa, ela ajudava as irmãzinhas menores a não ter medo - ligava a vitrola no quarto com músicas bonitas, fechava a porta e aumentava o som.
Ai, Nanita....cuanto te añoro! Para quien voy a llamar ahora?
Faltam menos de 2 dias para eu chegar ao Chile.
A Mami está lá. Vou buscá-la. Vou ver meu tio. A dor é enorme.
A Nanita era importal para nós, para mim.
Sua alma foi direto ao céu. Ela já está lá, junto com Deus olhando por nós.
Olhando pelos sobrinhos que cuidou tanto.
Pelor irmãos, de quem tanto se preocupou.
Ela está junto da Tegualda, do Gustavo, da Tata Ina, do Abuelito Manuel Antonio.
Hoje seria seu aniversário:
- Feliz aniversário, meu anjinho no céu! E por favor, cuida de nós...só mais um pouquinho!