Iniciamos este blog em outubro de 2008, para divulgar o lançamento do livro de Francisco Dias da Costa Vidal sobre suas memórias da Praia do Hermenegildo. Mas continuaremos contando sobre nossos passeios, nossas experiências, nossas artes, e as novidades do nosso Planeta. Convidamos a todos os amigos a participarem e assim, continuarem a fazer parte da nossa história! Sejam Bem-vindos!

sábado, 13 de novembro de 2010

Chile...com sabor de poesia!

Foto - Na entrada da casa de Neruda, em Isla Negra, ainda sem saber extamente o que me aguardava.

Quando a minha mãe me contou que a Casa de Pablo Neruda, na Praia de Isla Negra, estaria no roteiro do passeio deles a Viña del Mar, decidi pegar o ônibus e fui passar um dia com eles.

Eu já estava em Santiago, mas não havia acompanhado ao passeio ao litoral. Havia decidido ficar com minha tia mais uns dias em Santiago.

Mas ir a Isla Negra seria maravilhoso e me revelaria o lado de Neruda que eu não conhecia.

Foto do quadro de Neruda, em Isla Negra.

Que os literatos perdoem meu atrevimento: falar de Pablo Neruda é para poucos! Parto do princípio que o importante não é narrar, descrever ou contar coisas, pois disso a internet está cheia mas, seguindo a idéia de Neruda, quero expressar sentimentos que rondaram naquela casa, nomeada “La Sebastiana”, no dia em que estivemos por lá.

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Naquele dia ensolarado de fevereiro, esperamos as guias turísticas nos buscarem de Van no Hotel para levar-nos até a “La Sebastiana”. Conosco os norte-americanos Deweys, Brad e Carol, pais do Tom, nosso "irmão" no ano de 77 em Pelotas, pelo intercâmbio do AFS.

Faltava pouco para o começo do Festival de Viña. O Hotel O’Higgings estava “fervendo” com os fãs, canais de televisão e repórteres.
Quando cheguei a Viña, quis entrar no Hotel e fui barrada pelos seguranças: “su credencial, señora!”. Mas consegui esperar os papis do lado de dentro.


Foto - Vista da praia desde o túmulo de Neruda.

Mais do que a própria poesia, fui lá para descobrir o que “movia” aquele homem tão romântico e sensível. Queria saber o que lhe inspirava tanto a escrever coisas tão profundas sobre o amor e as relações humanas.


Assim, fomos no dia seguinte à Isla Negra.

Fomos em direção a Santiago, oeste, e logo depois, dobramos à direta, tomando rumo ao litoral sul. A viagem durou 1 hora e meia, com direito a 2 paradas: uma num paradouro e outra em um mirante, onde tirarmos fotos da vista de Valparaíso e Viña del Mar.

Chegamos a Isla Negra.

Isla Negra é um lugarejo turístico, como algumas praias no litoral chileno: tranqüila, discreta, rochosa, íngreme, com ruas de terra e alguns turistas que admiram suas águas brabas e geladas e aproveitam o sol forte do verão.

Mas a Casa de Pablo Neruda é particularmente visitada: pessoas que vêm de longe....muito longe, atrás de sua história e poesia! Mas chilenos também que vão atrás de sua própria cultura.

Foto - ao fundo, a Casa de Neruda.

Revendo as fotos da visita, me lembro do detalhes românticos que ele pôs em cada detalhes e suas frases sobre cada cantinho.


Ví no poeta um romantismo profundo e até depressivo, mas um amor delicado e dedicado às mulheres, aos objetos, ás esculturas, ao mar e as histórias.

Claro, Neruda era canceriano, do 12 de julho, com características fortes: o lar, o mar, a comtemplação, os amigos, a comida e as artes.


Ao entrarmos na casa, pelos fundos, onde estão as toras de madeira para esquentar no inverno fomos recebidos por uma frase tipicamente “Neruda”: “regresé de mis viajes; navegué construyendo la alegria”.

Foto - O início da visita pela casa começa por esta parte: entrada da sala e depósito da lenha para a lareira.

A primeira sala que visitamos foi a sala principal.

Infelizmente, não tenho nenhuma foto da parte interna da casa pois não é autorizado.


"Neruda compró la casa de Isla Negra a un español socialista, viejo capitán de navío, retirado, que la construía para vivir con su familia. Como la casa estaba a medio hacer, el poeta pudo terminarla a su gusto; continuó la estrecha ala de cemento con un ancho living-room de piedra, en el cual abrió un enorme ventanal que causa el asombro de los arquitectos y entendidos: desde allí pueden verse la playa, el rompiente de olas, el vasto cielo y una larga extensión de costa que va hasta el puerto de San Antonio.” Margarita Aguirre (www.uchile.cl)


Nessa sala principal está a maioria dos “mascarones de proa”, estátuas de madeira que os navios levam na proa. Uma delas, de olhos de vidros que nos dias de inverno, parecem chorar por causa da umidade condensada com a calor da lareira.

Neruda dizia: “ ela chora com saudade do mar”.


Do outro lado da parede, a figura de um pirata enorme: “ele sempre foi apaixonado por ela; mas o amor e saudade do mar, não deixaram que esse amor se realizasse”.


Foto - Vista de o quarto de Neruda onde se vê a sala a esquerda e o corredor a direita, com peças de sua coletânea.

A sala é aconchegante com várias estátua de proa, copos coloridos, sofás com apoios de pés, uma parede de pedra aonde está a enorme lareira. A parede contrária dá uma vista ao mar, como outros tantos lugares da casa.


As próximas salas lembram o interior de navios: as portas pesadas de madeira, as cordas e a decoração. A gente precisa abaixar a cabeça ao passar pelas portas


A sala de jantar tem a mesa decorada tem jogos americanos com fotos de caravelas, cada uma com seu nome e ano. As janelas têm no seu parapeito, enormes garrafas de vidro: de um lado, garrafas com as cores do mar; do outro, com as cores da terra. A cozinha foi modificada, mas ainda guardam as panelas, pratos e talheres. Na porta da cozinha dizia:” não entre sem ser convidado”. Para Neruda, a cozinha guardava mistérios que ninguém podia desvendar. Não era do interesse de ninguém.


Depois, no escritório, as coleções de cachimbos, de garrafas com desenhos de areia (vindas do Brasil), outras com réplicas de barcos, coleção de borboletas, máscaras de todos os lugares do mundo. Ali também está um telescópio, que ele nunca pôde usar, pois já estava no hospital, antes de morrer e um enorme globo terrestre


Nessa sala, está “Guillermina, La Desbergonzada”: outra estátua de proa de navio; Escandalosa, isolada, olhando o mar. Estátua de seios à mostra, de peito aberto como quem enfrenta o vento abrindo o caminho pelo mar. Ele dizia sobre ela: ”Guillermina não pode ficar junto com as outras; ela pode convencê-las a mostrarem seus seios também”.


Poema sobre uma estátua de proa:

"En las arenas de Magallanes te recogimos cansada, navegante, inmóvil bajo la tempestad que tantas veces tu pecho dulce y doble desafió dividiendo en sus pezones...


A próxima sala lembra sua vida em Temuco: nela está um cavalo de madeira de tamanho natural e muitas peças indígenas.


Esse cavalo pertencia a uma loja. Durante anos, desde criança, Neruda foi admirador daquela figura enorme e encantadora. Anos depois, a loja sofreu um incêndio. O cavalo “sobreviveu”. Num leilão, Neruda o arrematou. Quando chegou à casa, Neruda fez uma festa ao cavalo convidando seus amigos. Cada um traria um presente. O cavalo recebeu estribo, chales de lã, freios e três rabos.


Pablo dizia: “ele é cavalo mais feliz do mundo, por que tem 03 rabos”. Para não decepcionar os amigos, os rabos foram colocados: 02, no lugar correspondente e 01, na base do pescoço.


A última sala, construída pela Fundação, tem todas as conchas recolhidas por Pablo Neruda ao redor do mundo. Outro momento significativo para os visitantes.


“Miles de pequeñas puertas submarinas se abrieron a mi conocimiento desde aquel día en que don Carlos de la Torre, ilustre malacólogo de Cuba, me regaló los mejores ejemplares de su colección. Desde entonces y al azar de mis viajes, recorrí los siete mares, acechándolos y buscándolos” P.N.

Foto - Vista do quarto de Neruda.

Não posso esquecer de seu quarto: um dos lugares mais poéticos da casa com vidraças grandes, deixando que o sol batesse na cabeceira da cama ao amanhecer e deixando que Pablo visse o pôr-do-sol olhando aos pés da cama. Ele pediu que construíssem um móvel de madeira na sua cabeceira para que a arrumadeira não mexesse na posição de sua cama. Ainda guardam sua roupas, fantasias e chapéus.


Foto - Descida do quarto ao pátio.


A vista do mar de cada canto e janela da casa é particularmente inspiradora. Pelas abertura, o mar, as árvores e o sol.


Do lado de fora da casa, outras histórias são contadas.



Existe um barco na frente da casa, “estacionado” na areia, ao lado de um campanário. O barco, dizia ele, era para convidar os amigos a tomarem “uns tragos”. Mas tinham que tomar até ficarem “mareados”. É que como Neruda era apenas apaixonado pelo mar e não era navegador, dizia que o objetivo era fazer de conta que recém haviam voltado do alto-mar. E para chamar os amigos, o campanário em forma de estrela.

A âncora (foto) foi trazida do sul do Chile para fazer parte de sua coleção.

Seu túmulo está ali, no jardim, declarando seu amor ao vento, ao sol, ao mar e a sua última esposa, Matilde, que descansa também ali.


Depois de tantas narrativas e histórias do poeta, tínhamos a nítida impressão de estar com ele por ali, atrás de cada porta, através de cada concha recolhida por todas as partes do mundo, de cada taça de vidro, de cada estátua de proa, de cada objeto harmoniosamente organizado pela Fundação Pablo Neruda.


Lá deixamos nossa admiração, nosso orgulho de ter sido um cidadão chileno tão exemplar, deixamos nossas lágrimas e nossa saudade.

Tudo lembra Neruda e a sensação é nítida de que ele está ali com cada visitante.


Terminamos nossa visita com um almoço tipicamente chileno, com visita ao mar, no restaurante dentro da Fundação: um saboroso filé de côngrio grelhado, que ainda me dá uma sensação agradável, não apenas pelo sabor, como pelas companhias.


É muito o que se pode falar da casa, de Neruda e de sua vida poética, cultural e política.


Despeço-me com um de seus poemas, escrito num cartão que a mami me comprou no Aeroporto, antes de partir:


-“Me gustas cuando callas por que estás como ausente, y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.

Parece que los ojos se te hubieran volado y parece que un beso te cerrara la boca”


Ana Teresa – 04.Abril.05

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