Iniciamos este blog em outubro de 2008, para divulgar o lançamento do livro de Francisco Dias da Costa Vidal sobre suas memórias da Praia do Hermenegildo. Mas continuaremos contando sobre nossos passeios, nossas experiências, nossas artes, e as novidades do nosso Planeta. Convidamos a todos os amigos a participarem e assim, continuarem a fazer parte da nossa história! Sejam Bem-vindos!

domingo, 7 de novembro de 2010

Os mineiros, a mina e eu

Os mineiros e "rescatistas" (socorristas) chilenos estão de parabéns!
O Chile, desde muitos anos, se prepara para as tragédias.
Os terremotos que abalam o país desde sempre são os principais motivos de treinamentos.
Nas escolas, as simulações de situações de risco, são obrigatórias.



Desta vez, os chilenos deram um exemplo ao mundo de eficiência e preparo.
Apesar da mina São José, em Copiapó, norte do Chile (onde os chilenos
ficaram soterrados durante cerca de 68 dias), não ser o melhor exemplo de segurança aos trabalhadores, com falhas nas medidas e nas condições de segurança, o
resgate foi vitorioso.
O presidente Sebastian Piñera, o Ministro de Minas, os socorristas, os
familiares e o povo chileno foram partícipes diretos da saída deles das
profundezas.

Naquela noite, do dia 13 de outubro de 2010, quando o terceiro mineiro saia, liguei
para Santiago. Minha mãe dizia da emoção e comoção de todos por lá e disse
-"todos os sinos das Igrejas estão tocando!"
Assistimos tudo on time através da tv e on line pela internet.
A "quase" tragédia foi divulgada por todos os meios de comunicação e mudou positivamente a imagem do Chile perante o mundo todo.
Mas para nós, apesar de não termos nem parentes nem amigos diretamente envolvidos, o acontecimento teve um outro siginificado - lembranças das pessoas, dos parentes e das histórias contadas por eles.

Nosso primo, Gustavo, trabalha lá na região como engenheiro de minas, mas com ele nada aconteceu.
Mas me lembrei das histórias que minha mãe contava sobre a mina "El Teniente", na vila de Sewell, ao sul de Santiago.
Neste ano, em maio, eu e ela estávamos no Chile, pelo falecimento da minha tia Nanita (já postado aqui).
Lá, encontramos com Inecita, afilhada da minha tia Tegualda, falecida em 1962. Tegualda, conhecida como "Guatona" era casada com engenheiro de minas, Eng. Agustín Larrain, e morou em Sewell (que os chilenos dizem "suhuel") por mais de 25 anos.
Quando Larrain e Tegualda casaram foram morar em Sewell. Lá ficaram por uns 4 ou 5 anos. Larrain já doente, pela perda de um rim com um acidente acontecido nas minas, teve que retornar a Santiago para ser tratado.
Larrain teve um grande amigo durante seu tempo em Sewell, Eng de Minas Rômulo Lizana, casado com Inez de los Reyes, com quem teve Inecita. Inez era filha do prefeito de Machali e levou Tegualda até aquela cidade para apresentá-la a um amigo - seu futuro marido Agustin, solteirão que acabava de perder a mãe. Ele 20 anos mais velho que ela. E se casaram menos de um ano depois.
Minha mãe, ia passar as férias de verão em Sewell e por alguns anos passeava por lá em companhia da Inecita. Tinha que levá-la a tomar banho de raios ultravioletas. Em Sewell há pouco sol durante o ano e banhos como esses sempre foram necessários para se evitar doenças, como o raquitismo.
Foto - Inecita e minha mãe, em Santiago (mai.2010)


Foto - Minha Tia Tegualda e meu tio, Eng Agustin Larrain, na mina El Teniente.
Elas aproveitaram para recordar alguns momentos da adolescência e eu para perguntar tudo o que podia, para entender nossa história.
Ouvindo, vi como tudo foi marcante para elas. Riam de tudo - as brincadeiras, as briguinhas, os passeios, as subidas e descidas pelas escadaria e a neve e o frio nas montanhas.





Mas o que foi Sewell e a Mina El Teniente?
Encravada nos Andes, 120km ao sul de Santiago e 50km a oeste de Rancágua, Sewell fica a 2400m sobre o nivel do mar. Um lugar particular, cheio de histórias e diferente de tudo - impossível não ser de outra forma.


Esta mina tem começo na época pré-hispânica com os indígenas da região. Em 1822, as terras foram recebidas por herança e adquirida por Juan de Dios Correa, que foi tenente de Bernardo O'Higgins na Batalha de Maipu. Em 1897, Enrique Concha y Toro comprou a fazenda. Em 1903 vendida ao americano Willian Braden que iniciou a industrialização da mina com a empresa Rancagua Mines. Logo após, a mudou o nome para Braden Cooper Company em sociedade com Barton Sewell, um alto executivo americano.

De 1908 a 1940, a produção passou de 250 toneladas por dia para 20mil
toneladas, trocando também de proprietários da mina.
Em 1945, 355 mineros morreram por asfixia de monóxido de carbono.
Em 1965, a mina produzia cerca de 75 mil toneladas por dia.
Em 1967, o governo chileno comprou 51% das ações da empresa e começou a
nacionalização da mina.
Em 1960, foi o auge em número de habitantes - cerca de 15 mil - em Sewell e
em 1971, 100% nacionalizada, começaram a ser transferidos a Rancágua, porque o
Estado não conseguia sustentar os altos custos da vila. Em 1977, havia apenas
1500 pessoas em Sewell.
Nos anos 80, a mina começa a mostrar sinais de término do mineral
secundário e começa a exploração do mineral primário, em pedra mais dura e com
um processo mais caro de extração.




Com cecrca de 2400 km de galerias subterrâneas, a mina "El Teniente" é considerada a mina de cobre maior de mundo. Em 2006, a vila foi declarada Patrimonio da Humanidade pela UNESCO.

Lá os mineiros, depois de viverem nas galerias, de forma subhumanas, passaram a viver em uma das melhores vilas da regiao - Sewell.
Por influência americana, a vila se tornou um lugar moderno, com estrutura de cidade de primeiro mundo. Os trabalhadores morava melhor que muitos chilenos. Havia um hospital, cinema, piscinas termais e escola.

Hoje, só restam algumas casas na parte central. As demais, foram demolidas.



Para conhecer Sewell, existem passeios turisticos que saem de Santiago e fazem visitatambém a mina.

Os mineiros, a mina El Teniente e eu
Interessei-me por este assunto. Minha estada em Santiago neste ano, me fez relembrar e investigar as histórias da minha familia. O acidente trouxe tudo à memória.
Por três vezes neste ano, o assunto se repetiu.
Os mineiros, a mina e eu!!!
Sabe-se que ao redor do mundo, existem milhões de mineiros.
Muitos morrem todos os anos por condições inseguras ou descaso.
Eles são corajosos, sofridos e até o momento, ignorados por muitos de nós.
Mas certamente após este acidente, não apenas eles, mas as regras serão lembradas e revisadas.
Assim, menos mineiros morreram, menos mineiros ficarão doentes e menos famílias sofrerão.
E o futuro?

2 comentários:

José CS Vidal disse...

O sétimo mineiro chileno a ser puxado se chama José Vidal.

Ana Teresa S V disse...

E parece que não havia nenhum Soto!